O Verdadeiro sentido de Pentecostes

04/06/2014 11:11

Para entendermos o verdadeiro sentido da Solenidade de Pentecostes, precisamos partir do texto bíblico que nos apresenta na narração: “Quando chegou o dia de Pentecostes, os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído como de um vento forte, que encheu toda a casa em que se encontravam. Então apareceram línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia expressar-se. Residiam em Jerusalém judeus devotos, de todas as nações que há debaixo do céu. Quando ouviram o ruído, reuniu-se a multidão, e todos ficaram confusos, pois cada um ouvia os discípulos falar em sua própria língua” (At, 2, 1-6). Essa passagem bíblica apresenta o novo curso da obra de Deus, fundamentada na Ressurreição de Cristo, obra que envolve o homem, a história e o cosmos.


O Catecismo da Igreja Católica diz que: “No dia de Pentecostes (no termo das sete semanas pascais), a Páscoa de Cristo completou-se com a efusão do Espírito Santo, que se manifestou, se deu e se comunicou como Pessoa divina: da Sua plenitude, Cristo Senhor derrama em profusão o Espírito” (CIC, n. 731).


Nessa celebração somos convidados e enviados para professar ao mundo a presença d’Ele [Espírito Santo]. E invocarmos a efusão do Espírito para que renove a face da terra e aja com a mesma intensidade do acontecimento inicial dos Atos dos Apóstolos sobre a Igreja, sobre todos os povos e nações.

 

Por essa razão, precisamos entender o significado da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade: “O termo Espírito traduz o termo hebraico Ruah que, na sua primeira acepção, significa sopro, ar, vento. Jesus utiliza precisamente a imagem sensível do vento para sugerir a Nicodemos a novidade transcendente d’Aquele que é pessoalmente o Sopro de Deus, o Espírito Divino. Por outro lado, Espírito e Santo são atributos divinos comuns às Três Pessoas Divinas. Mas, juntando os dois termos, a Escritura, a Liturgia e a linguagem teológica designam a Pessoa inefável do Espírito Santo, sem equívoco possível com os outros empregos dos termos espírito e santo” (CIC, n. 691).


A Solenidade de Pentecostes é um fato marcante para toda a Igreja, para os povos, pois nela tem início a ação evangelizadora para que todas as nações e línguas tenham acesso ao Evangelho e à salvação mediante o poder do Espírito Santo de Deus.


O Papa Bento XVI fala sobre esse processo de reunificação dos povos a partir de Pentecostes: “Tem início um processo de reunificação entre as partes da família humana, divididas e dispersas; as pessoas, muitas vezes, reduzidas a indivíduos em competição ou em conflito entre si, alcançadas pelo Espírito de Cristo, abrem-se à experiência da comunhão, que pode empenhá-las a ponto de fazer delas um novo organismo, um novo sujeito: a Igreja. Este é o efeito da obra de Deus: a unidade; por isso, a unidade é o sinal de reconhecimento, o ‘cartão de visita’ da Igreja no curso da sua história universal. Desde o início, do dia do Pentecostes, ela fala todas as línguas. A Igreja universal precede as Igrejas particulares, as quais devem se conformar sempre com ela, segundo um critério de unidade e universalidade. A Igreja nunca permanece prisioneira de confins políticos, raciais ou culturais; não se pode confundir com os Estados, nem sequer com as Federações de Estados, porque a sua unidade é de outro tipo e aspira a atravessar todas as fronteiras humanas” (Bento XVI, Homilia na Solenidade de Pentecostes, 23 de maio 2010).


Temos necessidade do Espírito Santo Paráclito no nosso tempo: Veni, Sancte Spiritus!


No dia 8 de junho deste ano de 2014, a Igreja Católica celebra a Festa de Pentecostes. A liturgia do dia nos apresenta a descida do Espírito Santo sobre a comunidade dos discípulos, em duas tradições – a de Lucas (Atos) e da Comunidade de São João. Em João, a Ressurreição, a Ascensão e a Decida do Espírito se deram no mesmo dia da Páscoa, enquanto Lucas separe os três eventos, Páscoa, Ascensão e Descida do Espírito Santo, num período de 50 dias. Encerra o ciclo pascal com a Festa do Pentecostes. Pentecostes que significa cinquenta, cinquenta dias após a ressurreição do Senhor. A Festa de Pentecostes era nos primórdios a Festa da Colheita, os povos agradecidos a Deus pelas bênçãos do Céu, faziam uma grande festa pelos frutos colhidos graças à providência do Criador. A leitura enfatiza que no dia de Pentecostes todos estavam reunidos com “os mesmos sentimentos, e eram assíduos na oração” (At 1, 14). Quer dizer, a descida do espírito não é algo mágico, mas consequência da unidade na fé e no seguimento do projeto de Jesus. De repente, “veio do céu um ruído como de violento vendaval que encheu toda a casa onde eles estavam. Então lhes apareceu algo como línguas de fogo, que se repartiam, e pousou um sobre cada um deles. Todos ficaram repletos do Espírito Santo, e se puderam a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia exprimirem-se” (Atos. 2,4). Este relato usa imagens apocalípticas, símbolos da teofania, ou da manifestação da presença de Deus – o som de um vendaval e as línguas de fogo. O Catecismo da Igreja Católica afirma: “Terminada a obra que o Pai havia confiado ao Filho para realizar na terra, foi enviado o Espírito Santo no dia de Pentecoste para santificar a Igreja permanentemente. Foi então que “a Igreja se manifestou publicamente diante da multidão e começou a difusão do Evangelho com a pregação” (CIC no. 767). A Bíblia nos diz que com a descida do Espírito Santo os presentes pudessem “ouvir, na sua própria língua, o que os discípulos falaram” (Atos, 2, 8-11). Assim, Lucas quer enfatizar que o dom do Espírito Santo tem um objetivo missionário e profético – de fazer com que toda a humanidade possa ouvir e compreender a nova linguagem, que une todas as raças e culturas – ou seja, a linguagem do amor, da solidariedade, do Projeto de Jesus, do Reino de Deus.


A função do Espírito Santo em nós é: a) santificar: “Fostes lavados, fostes santificados, fostes justificados em nome do Senhor Jesus, mediante o Espírito do nosso Deus” (1Cor 6, 11). b) iluminar: “O Confortador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que vos disse” (Jo 14, 26). c) fortificar: “O Espírito Santo vem em auxílio de nossa fraqueza” (Rom 8, 26). O Catecismo da Igreja Católica nos apresenta os dons e frutos do Espírito Santo. No sacramento de crisma recebemos os sete dons do Espírito Santo: sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus (CIC no. 1831). Os frutos do espírito são perfeições que o Espírito Santo forma em nós como primícias da glória eterna. A Tradição da Igreja enumera doze: “caridade, alegria, paz, paciência, longanimidade, bondade, benignidade, mansidão, fidelidade, modéstia, domínio de si e castidade” (Gl 5, 22-23).


A Festa de Pentecostes é uma festa missionária que marca a transformação da Igreja de uma seita judaica numa comunidade universal, missionária, mas, não proselitista, comprometida com a construção do Reino de Deus “até os confins da terra”. Aprendamos dos dois relatos da decida do Espírito Santo no Novo Testamento, não a de falar em línguas, mas a falar a língua única do amor e do compromisso com o Reino, para que a mensagem do Evangelho penetre todos os povos, culturas, raças e etnias. O dom do Espírito Santo é dado a cada um de forma individual, mas somente quando agimos na missão comum de evangelizar é que sua manifestação acontece de forma completa.