Dízimo - Quinto Mandamento da Igreja
QUINTO MANDAMENTO DA IGREJA.
“Ajudar a Igreja em suas necessidades” (CCE 2043; CIC 222)
Razão: Recorda aos fiéis que devem ir ao encontro das necessidades materiais da Igreja, cada um conforme as próprias possibilidades. Nas primeiras comunidades cristãs vemos que o modelo da Igreja criada com a força do Espírito Santo tem como base a partilha, solidariedade e a subsidiariedade (At 2,42-46).
Os fiéis têm obrigação de socorrer as necessidades da Igreja, a fim de que ela possa dispor do que é necessário para o culto divino, para as obras de apostolado e de caridade e para o honesto sustento dos ministros. Esta obrigação deriva-se do fato de que, embora a Igreja tenha origem e missão divina, é composta de seres humanos que dependem destes recursos para poderem desempenhar sua missão (1Cor 9,8-14; Lc 10,7s.).
Cumprimento do preceito:
Em épocas passadas este dever concretizava-se na entrega do dízimo – a décima parte dos rendimentos – ou as primícias – as primeiras colheitas (dos frutos da terra e dos animais).
Atualmente a contribuição é feita “em consciência”, isto é, dentro das possibilidades de cada um, mas que permitam a preservação da dignidade e da missão da Igreja.
O dízimo em suas dimensões:
Nossa Igreja consta de duas realidades diferentes e absolutamente necessárias. Em primeiro lugar, para que haja Igreja, é preciso que haja povo (o nome Igreja vem de Eklesia que significa a assembléia convocada, reunida). Este povo, unido pelo amor (caridade), professa a mesma fé e testemunha Jesus Cristo, esta é a primeira e mais importante dimensão da Igreja: a humana, a Igreja povo de Deus.
A outra dimensão é o templo, pois a Igreja deve ser uma família consagrada em Jesus Cristo, pelo amor de Deus, e atuante através do Espírito Santo. Assim como toda a família precisa de uma casa para abrigar seus membros, a grande família de Deus precisa de um lugar que possa acolher os seus membros e onde estes possam render graças ao Pai, comungar a mesma fé e assumir um compromisso de responsabilidade. Esta dimensão da Igreja é chamada de Igreja-templo. O dízimo é a força propulsora que faz acontecer de fato a Igreja-povo e a Igreja-templo; através dele, acontece o milagre da multiplicação: “do pouco de cada um se faz o muito para todos”. Este “muito para todos” só acontece, de fato, quando a destinação do dízimo se dá em três dimensões:
- Dimensão religiosa: inclui todas as despesas relacionadas à manutenção do templo, da casa paroquial, da secretaria e do padre (Ex 25,8s; 1Cor 9,13s);
- Dimensão social: inclui todas as ações sociais e de promoção humana no âmbito paroquial e diocesano (Dt 14,29; At 4,34s);
- Dimensão missionária: inclui as despesas relacionadas com a divulgação da Palavra de Deus, dentro e fora da paróquia, tais como catequese, formação de agentes de pastoral, contribuição ao seminário e outras despesas relacionadas.
Cada comunidade deverá decidir, dentro desta orientação, como utilizar, da melhor forma possível, o seu dízimo, havendo momentos em que uma delas necessita de uma parcela maior que a destinada habitualmente; o importante é que o pároco e os representantes da comunidade não percam jamais de vista a importância e a legitimidade dessas três dimensões. Percebe-se claramente que a aplicação das três dimensões do dízimo implicam num planejamento de ação pastoral muito bem feito; sem este planejamento, mesmo que a comunidade tenha um ótimo dízimo, a paróquia não conseguirá utilizá-lo em todas as dimensões e, portanto, não estará sendo fiel a Deus e aos dizimistas.
Dízimo, experiência de fé:
Quando tratamos do assunto dízimo muitas questões começam a surgir em nossa mente: devemos pagar? Somos obrigados? Para onde vai o dinheiro?
A primeira referência que devemos ter numa meditação sobre este assunto é que no Antigo Testamento os judeus contribuíam com o dízimo (a décima parte dos rendimentos ou das colheitas e rebanhos) como uma forma de gratidão pelos benefícios obtidos de Deus, reconhecendo assim sua total dependência a Ele (Lv 27,30). No AT, o dízimo representava e tornava visível a comunhão do homem com Deus e enfatizava o reconhecimento de que Deus provia as necessidades do povo. Portanto, dar o dízimo significa muito mais que uma obrigação, é colocar as coisas em seus devidos lugares; e Deus é quem tem que estar em primeiro lugar em nossas vidas (Dt 8,17; Ml 3,10).
A fidelidade ao dízimo demonstra a escala de valores que orienta a nossa vida; não é uma contribuição ou obrigação, mas um “devolver” a Deus aquilo que a Ele pertence (Eclo 35,12).
Este é o desafio incluído no dízimo: de comprometermos e entregarmos generosamente nosso tempo, nossos dons e nossos bens (em última analise a nossa vida) para a construção do Reino de Deus, pois para o cristão, ofertar, partilhar, não pode ser algo ocasional, mas uma conduta natural no seu relacionamento com Deus e com o próximo. O dízimo não é tudo na vida do cristão, mas ser cristão e não ser dizimista deixa a sensação de estar faltando algo….
O dízimo é a parte de nossa vida que pertence a Deus, é um ato de amor e de fé consciente, é uma resposta de amor e gratidão a Deus.
Quem leva a sério as palavras de Jesus Cristo e reconhece a importância da presença de Deus em sua vida, tem a consciência de que o dízimo é algo muito sério, importante e necessário. Desta forma é que devemos ofertar nosso dízimo, com alegria e gratidão, como manifestação de nossa fé, de estarmos integrados numa comunidade (família).
Como regra geral, portanto, ele deverá ser doado na comunidade em que residimos, como sinal de compromisso com ela e para que cresça, se torne forte na fé, viva e unida, evidenciando assim os traços comunitários, autênticos, relatados na Sagrada Escritura (At 2,42-47; 4,32-35).
O dízimo é um desafio, uma experiência de fé; portanto, deve ser uma oferta espontânea, comunitária, alegre e generosa, consciente e sistemática. Não é uma taxa, tributo para alívio da consciência e muito menos um “pré-pagamento” de serviços religiosos ou “suborno” para comprar as bênçãos de Deus.
Contribuindo com o dízimo o cristão está sendo ajudado e ajudando a sua Igreja, está testemunhando e expressando a sua fé e está atento às necessidades de seus irmãos mais pobres que precisam ser ajudados e promovidos. Quando compreendemos esta faceta do dízimo, fazemos nossa contribuição sem condicioná-la ao seu destino ou “a prestação de contas por parte do padre”; contribuímos por amor e gratidão a Deus e se esta contribuição não é destinada conforme devia, os responsáveis prestarão contas ao Proprietário no tempo oportuno (Lc 16,10-15; Mc 12,38-40; Mt 23, 23-28; 25,30. 41-46).
É importante que façamos uma avaliação sincera de nossa vida, pois religião não consiste apenas de ritos, costumes, teologia, nem é apenas um tipo de culto ou de boas ações. A palavra religião significa “religar”, tornar a ligar nosso coração a Deus, despegando-o de tudo que escraviza (principalmente o egoísmo) e dando prioridade a Deus; este é o caminho para encontrar e experimentar o Verdadeiro Deus que não nos abandona e nos ama intensamente.
O dízimo poderá transformar-se numa experiência muito forte com Deus, quem faz esta experiência poderá, certamente, sentir as promessas de Deus se cumprir em sua vida (Ml 3,10-12). Façamos a experiência….! só depende de nós….!
Referências Bibliográficas.
AQUINO, F. A Moral Católica e os Dez Mandamentos. Cléofas, São Paulo, 2005.
BETTENCOURT, E.T. Curso de Teologia Moral. Escola “Mater Ecclesiae”.
Catecismo da Igreja Católica. 9ª edição. Ed. Vozes, Rio de Janeiro, 1997. nº 2052- 2557.
Texto elaborado por Luiz Maurício Teixeira Osório